segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Poesias

Morre lentamente

"Pablo Neruda"

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
LUA ADVERSA
Cecília Meireles

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,no secreto calendárioque um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancoliaseu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meunão é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

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