domingo, 19 de agosto de 2007

Não me deixes ( Gonçalves Dias )

NÃO ME DEIXES!

Debruçada nas águas de um regato,
A flor dizia em vão
À corrente,
onde bela se mirava...
_ “Ai, não me deixes, não!
“Comigo fica, ou leva-me contigo
“Dos mares à amplidão:
"Límpido ou turvo,
te amarei constante;
“Mas não me deixes, não!”
E a correnteza passava;
novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer,
curva na fonte:
_ “Ai, não me deixes, não!”
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão,
Dizia sempre a flor,
e sempre embalde:
_ “Ai, não me deixes, não!”
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A correnteza impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
_ “Não me deixaste, não”

(Gonçalves Dias)

Nenhum comentário:

Arquivo do blog