Que Será das Rosas de Vento
Cavalguei o vulcão de Paulo Afonso.
Engoli os Andes e o Evereste das tardes.
Sorvi o último grão de areia dos gabinetes...
Palmilhei veredas de fogo, conquanto verdes,
E devastei os subterrâneos pensamentos das
florestas do beijo incolor que foi quase nosso.
— Quem viu minhas sandálias no Saara?"
Carlos Drummond de Andrade
Autopsicografia
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor,
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem ,
Não as duas que ele teve
Mas só a que eles não têm
E ,assim,nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
FERNANDO PESSOA
“Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um“.
( Fernando Pessoa)
Essa lembrança
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memoria a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança... mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! tão perdida
quem nem se possa saber mais de quem!
Mario Quintana - In A cor do invisível
O umbigo
O teu querido umbiquinho,
Doce ninho do meu beijo
Capital do meu Desejo,
Em suas dobras misteriosas,
Ouço a voz da natureza
Num eco doce e profundo,
Não só o centro de um corpo,
Também o centro do mundo!
Mario Quintana - In A cor do Invisível
Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava
Mario Quintana
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